Eu sou uma fraude

Acordo todos os dias para morrer um pouco. Tão cheia de vida, tantos planos e não existe agir.

Nunca acordo de verdade, apenas vagueio e me enjaulo em meus medos. Todos já foram embora, vivem distante e ela só come solidão.

Não, por favor não se aproxime, meus medos e sombras podem te consumir. Não tente nem me ajudar, pois não vou acreditar em seu interesse.

Quero viver sem contar histórias para te agradar, pois muitos já me enganaram, e até eu mesma já não me conto verdades.

Deixe-me, vá viver, já que em mim não há esperança, a idosa tem mais vida e vigor, mais sentido de existir, eu já morri depois que descobri todos os meus objetivos.

Desnudei a alma, me enganei em saber o desconhecido e apenas fui apresentada aos meus demônios que se recusam a sair de minha mente.

Febre e dor, manifestam minhas fúrias e gritos retidos, o gordo o magro e o perdido são tão interessantes e passam por todos sorrindo enquanto que de mim nem as pisadas escutam.

Aos mortos, talvez me entendam, então me digam, qual a dor que me consome desde antes a existência? Qual a culpa renovada de tanto saber sem saber explicar?

Não queira entender esse pranto, ele é o caos da vida que nunca acaba e do corpo que sempre morre. Já houve um começo que nunca terá fim, descubra-se faminto e coma a sua parte de sentido, senão nada e vazio serão as únicas portas para atravessar.

Acordo todos os dias para morrer um pouco.